Aécio Neves, hipocrisia? Não, é como FHC, outro, Tartufo, de Molliere.
O senador Aécio,
ex-deputado federal, ex-presidente da Câmara dos Deputados, ex-líder de FHC e
ex-governador de Minas Gerais, agora reclama da ausente reforma política.
Referindo-se a uma
imprecisa “história recente”, ele tenta se blindar dizendo que nenhum governo
“foi capaz de lidar com o vespeiro da política, preferindo o caminho da
acomodação dos interesses para acolher um quadro partidário sempre favorável ao
governismo”.
Na sequência, ele
repete o diagnóstico raso, que qualquer estudante de ciências sociais faz com
mais competência, aplicando a fórmula desenvolvida em 1973, pelo professor
Gláucio Soares: a partir do “índice de fragmentação partidária”, conclui-se que
a representação partidária nas casas legislativas é expressão do varejo
partidário de nosso sistema político.
De te fabula narratus (esta fábula
fala de ti).
Vejamos na Assembleia
Legislativa de Minas Gerais como funciona o governismo por ele inaugurado em 2003:
são 19 partidos em que se acomodam os 77 deputados.
Três partidos são
formalmente de oposição: PT, PMDB e PCdoB, que formavam um “Bloco Parlamentar”
com o PRB, de oposição ao governo tucano.
Por razões nada
filosóficas, esse bloco foi desfeito e parte de seus componentes passaram à
base do governo do PSDB. As outras 16 agremiações, algumas com “bancadas” de um
ou dois membros, se acotovelam nas rampas da sede do governo, à espera de
alguma benesse.
A distribuição de
cargos, sem os tais critérios meritocráticos, é acintosa.
O privilégio para a
“liberação de emendas” para os amigos também.
E sua imposição de
unidade desses partidos nas eleições de BH, em torno de um candidato que não
era do PSDB e que compõe também a base do governo federal, revela os vícios que
ele diz combater, mas dos quais também é dependente.
Esse sistema poderia
ter sido mudado no governo FHC, sob a liderança do então deputado Neves.
Ele, aliás, nunca nos
esqueceremos, foi beneficiário do “sistema político” que agora diz querer reformar:
Antônio Carlos Magalhães o presenteou com a rádio Arco-Íris em 1987!
Vinte e três anos
depois descobrimos que essa rádio pertencia à irmã Andréa e à sua genitora e que estava recebendo
verbas públicas para acolher carros de luxo, de uso privado do ex-governador.
E que a mesma rádio
retornou em 28 de dezembro de 2010 ao seu controle, em clara operação
triangulada, que visava restabelecer a propriedade ocultada por mais de uma
década.
Sabemos de sua
insinceridade quando ele elogia o STF agora. Se houver coerência da PGR e do
STF, seu próprio mandato de senador não chegará ao fim.
Se a teoria e a
doutrina “do domínio do fato” forem a ele aplicadas, Aécio Neves não tem como
escapar. Isso sem falar em outros diamantes da política que brilham em sua
carreira.
No entanto, seu
trôpego elogio à “Corte Suprema” revela algo de interessante: com a falência
múltipla do DEM, do PPS e de seu PSDB, como esteio de um projeto de poder e de
governo no Brasil, restou às instituições do próprio Estado, exercerem o papel
de oposição partidária ao governo liderado pelo PT.
Quando Aécio clama por
reforma política, na prática, ele quer é a salvação dos partidos que lhe são
servis. E ao mesmo tempo ele assume sua derrota eleitoral em Minas Gerais
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