Artigo espetacular sobre o Bolsa Família no blog do NASSIF
O TCC sobre o Bolsa Família: uma aula de jornalismo
Atualizado com vídeo
Na sexta participei de uma banca de TCC(Trabalho de Conclusão de
Curso) da Faculdade Metodista de Jornalismo.
Trabalho excepcional da moçada sobre o Bolsa Família, tanto
no vídeo de 25 minutos quanto no trabalho escrito, abordando vários aspectos do
programa e da discussão política sobre ele.
O mais relevante, no entanto, é o documentário focado em senhoras
beneficiárias do Bolsa Família, mostrando seu dia-a-dia, os problemas que
enfrentam para atender às condicionantes do programa. Mais que isso, mostrando
de maneira crua o que é a vida de um miserável.
Entrevista a senhora, mãe de sete filhos, que acolhe a vizinha,
mãe de quatro, em um quartinho, em uma comovente demonstração de solidariedade.
Mostra geladeiras vazias, a vergonha da pobreza, a esperança com o futuro, os
problemas para cumprir as condicionalidades do programa, o filho que não mais
frequenta a escola por vergonha de suas roupas, a economia para comprar uma
camiseta para a filha pequena.
A revolução na gestão das empresas brasileiras teve início quando
o foco de toda a ação passou a ser o consumidor. As empresas se debruçaram para
conhecer sua clientela, para analisar de que maneira seus serviços eram
recebidos e percebidos e, a partir daí, focar seus planos de melhoria.
O mesmo deve ocorrer em qualquer política pública: a análise do
que acontece na ponta. E é isso o que o vídeo mostra de maneira exemplar.
A exposição do mundo real é temperada com entrevistas com
especialistas, de André Singer a Floriano Pesaro - o vereador tucano que teve a
melhor professora do país sobre políticas sociais, dona Ruth, e parece não ter
aprendido muito com ela.
Confira alguns dos mitos desmontados pelo vídeo.
A cobrança de contrapartidas
Floriano aparece dizendo que a crítica dele é quanto à falta de
acompanhamento das condicionantes do programa. Na sequencia, a entrevista de
duas senhoras contando que perderam parte do BF pelo fato dos filhos terem
abandonado a escola.
Quais os motivos? Em um caso, vergonha do filho de ser pobre, de
ir mal vestido e ser alvo da zombaria dos colegas. Em outro, falta de roupa de
frio, impedindo sua saída de casa em dias de muito frio. Há o caso de uma mãe
que paga 70 reais por mês para a condução que leva a filha à escola.
A preocupação de Pesaro, que se diz especialista, é apenas com a
cobrança, para evitar a malandragem.
A do documentário – de jovens de pouco mais
de 20 anos, que nunca estudaram políticas sociais - é identificar as
dificuldades para cumprir as condicionalidades.
Em outro contraponto, Floriano diz que o objetivo do programa não
pode ser o de meramente transferir dinheiro indefinidamente para as famílias,
mas de fortalecer a livre iniciativa, a economia, o mercado. Em seguida, a mãe
de família miserável, de sete filhos, dizendo que o objetivo de governo deve ser
"olhar para nós". No céu, Dona Ruth enrubesceu.
Faltou no projeto uma análise melhor sobre a miséria absoluta, a
fome absoluta, a partir dos próprios estudos de Josué de Castro. A partir dessas
análises se poderá avaliar melhor o enorme significado de tirar alguém dessa
situação.
O foco do BF e a falácia do mundo
ideal
Assim como Pesaro, o trabalho (escrito) apresentou as críticas
inconsistentes ao programa, por parte de frei Betto e do ex-Ministro Cristovam
Buarque, grandes praticantes da chamada falácia do mundo ideal.
Como funciona? Apresenta-se um objetivo extraordinário,
ambiciosíssimo, com chance zero de sair do papel, para se contrapor a um
trabalho que, mesmo com resultados excepcionais, jamais conseguirá chegar perto
desse mundo de fantasias.
O objetivo é mostrar ao mundo como o autor da fantasia
é muito mais solidário com a pobreza, e muito mais ambicioso nos seus objetivos
do que esses reles mortais sem virtude e sem ambição.
O trabalho levanta entrevistas de Betto dizendo que o Fome Zero
tiraria todo mundo da miséria e colocaria no mercado produtivo em dois anos.
Para tanto, articularia programas de horta comunitária, reforma agrária (seria
interessante saber como seria a reforma agrária na periferia das grandes
cidades, foco maior da miséria), alfabetização, recursos hídricos,
cooperativismo, capacitação profissional....
O Fome Zero não conseguiu organizar
sequer a distribuição de alimentos e roupas que chegaram até ele no grande
mutirão social que a eleição de Lula deflagrou.
O modelo engendrado por Patrus Ananias é eficiente
justamente devido à sua simplicidade e abrangência. O objetivo do Bolsa Família
é cadastrar todos os miseráveis e garantir um recurso mínimo para tirá-los da
fome absoluta, condicionado a dois pontos: filho grande na escola, recém-nascido
no posto de saúde.
Nunca se pretendeu salvar a atual geração de miseráveis,
porque impossível. Nem colocá-los no mercado de trabalho da noite para o dia,
porque inexequível. O objetivo é simplesmente o de lhes fornecer uma migalha de
cidadania, para tirá-los dessa doença social, da miséria absoluta. E, em cima
dessa base, posteriormente, articular outras políticas sociais.
A porta de saída
Outro mito que se desmonta - a partir dos depoimentos colhidos -
é a tal da porta de saída. Conta-se uma caso de senhora bem sucedida, que foi
acolhida pelo Bolsa Família, depois tornou-se empreendedora de uma cooperativa
de costureiras em Osasco.
Mas só conseguiu isso porque na ponta, em Osasco, houve um
trabalho social relevante, ajudando a organizar as senhoras para a tal porta de
saída. Ou seja, a porta de saída depende fundamentalmente das ações das
prefeituras na ponta.
A partir daí, há espaço para uma crítica consistente ao Bolsa
Família. De que maneira estão amarrando, com as prefeituras, programas de
inclusão social, de inclusão no mercado de trabalho? De que maneira outros
programas sociais do governo, de transferência de recursos para prefeituras,
podem ser articulados com o BF, à medida em que o principal já se tem: o
cadastro e acompanhamento das famílias assistidas?
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