IGREJA METODISTA CENTRAL DE GOVERNADOR VALADARES, O COMBATE AO GOLPE DE 64 NA REGIÃO, COMEÇOU AQUI.
Certo dia lendo texto de Izaias Almada em que ele respondia a um leitor metodista que o conheceu na adolescência quando Izaias Almada frequentava também esta denominação protestante americana. Leia AQUI.
Fica óbvio que ambos tomaram rumos diferentes na vida. O tal leitor ficou no seu Metodismo. Almada como sabe-se intelectual, escritor, dramaturgo, evidentemente, não continuaria a pertencer a esta religião, seita, sei lá, eivada de dogmas, crendices, conservadorismos, americanofilismos, individualismos e quetais.
Izaias Almada lei mais AQUI
O curioso disto tudo é que nas pesquisas que andei fazendo, constatei que, na minha cidade Governador Valadares MG, QG do golpe de 64 na região leste, nordeste de minas, quem combateu os golpistas e conspiraram contra o golpe foram os metodistas. Ocorre que a ICAR era e é ainda muito ligada às oligarquias rurais( O que me faz lembrar Evita "oligarcas de mierda"). A ICAR em Governador Valadares se lixou para o João XXIII e sua Teologia da Libertação.
O trabalho duro de combater os opressores e bota opressão nisto, ficou com os metodistas. Parece-me que a mulher do pastor à época os abrigava em sua própria casa para suas reuniões. Pena que este leitor do Izaias não tenha participado destas reuniões, idade para isto ter em hipótese, ocorrido ele tem. Curiosa também é a vida não?
1- Dentro da temática "Contribuições do Marxismo para as idéias comunicacionais da América Latina", o professor Sebastião Breguez apresenta seus estudos que visam documentar a contribuição da Igreja Metodista na reflexão dos pressupostos teóricos marxistas em Governador Valadares, em Minas Gerais, entre 1968 e 1970.
O pesquisador ressalta um grupo de estudos formado por estudantes secundaristas integrantes da Igreja Metodista na cidade e liderados pela professora Dorcas de Oliveira.
"O objetivo deste trabalho é mostrar que a Igreja Metodista de Governador Valadares foi centro de difusão do pensamento marxista nos anos 68-70", afirma Breguez.
O pesquisador ressalta que, na época, o grupo se reunia na casa da própria professora. Das reflexões, passaram a editar um jornal sob o título O Monumento, mimeografado semanalmente em vermelho e tom forte, com tiragem de cerca de 50 exemplares.
Breguês ressalta que no caso específico de Governador Valadares, a chamada "nova esquerda" ou "esquerda jovem" surgiu na própria Igreja Metodista, visto que a Igreja Católica era aliada à elite agrária dominante no Vale do Rio Doce.
Como metodologia de estudo, a pesquisa, segundo Breguez, partirá de entrevistas a ex-membros deste mesmo grupo de estudos como engenheiro civil Alen Boechat, o jornalista Elias Siqueira, a socióloga e professora da Universidade Vale do Rio Doce (Univale) Sueli Siqueira, o engenheiro Suelio Siqueira, a professora Dorcas de Oliveira, o jornalista Mauro Santayana, e o jornalista Carlos Olavo, ex-editor de O Combate, jornal caracterizado de esquerda em circulação na cidade no início dos anos 60.
O pesquisador ressalta que a Igreja Metodista sempre esteve presente no desenvolvimento cultural, social e econômico de Governador Valadares.
Quanto à construção de um pensamento comunicacional marxista, Breguez afirma que a instituição "propiciou a criação de um grupo de jovens voltados para as primeiras leituras marxistas, as discussões dos problemas sociais no campo e na cidade e para o debate sobre as contradições do capitalismo". O pesquisador ressalta que este grupo de estudo foi "um caminho que o levou ao interesse e conhecimento do marxismo científico".LEIA O ORIGINAL AQUI
2- O objetivo deste trabalho é mostrar como que a Igreja Metodista de Governador Valadares MG, no Vale do Rio Doce, distante 300 Km de Belo Horizonte, foi centro de difusão do pensamento marxista nos anos 68-70.
Uma liderança jovem de comunicadores se formou na cidade, com base no pensamento social de Karl Marx e os filósofos do Movimento de 68 (Marcuse e a Escola de Frankfurt), e partiu para atividades políticas na região. Este trabalho de difusão do marxismo, entretanto, não nasceu das lideranças religiosas (pastores e religiosos), mas da base da igreja, dos filhos de classe média, que tinham acesso às escolas, jornais, revistas e livros.
A circulação de informação era grande na cidade, onde se encontravam nas livrarias os livros mais lidos no país e as bancas de revistas tinham todos os principais jornais: Jornal do Brasil, O Globo, O Estado de S. Paulo, A Carapuça, O Pasquim, etc. O que chama a atenção é porque a Igreja Metodista ? O que tinha ali que provocou a busca do marxismo ?
Governador Valadares é uma cidade que situa-se em uma confluência espacial importante: está às margens da rodovia Rio-Bahia, na metade do caminho entre o Rio e a Bahia, mas também está às margens de rodovia que liga a cidade a Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Portanto, a comunicação rodoviária é privilegiada e permite a ida e a vinda de populações passageiras.
Muitos nordestinos, que migram para o Rio ou São Paulo, acabam parando ali para descansar, permanecem e criam raízes com famílias e comércio. Esta população flutuante, entretanto, pode ser a causa da fama de cidade violenta, que a localidade teve, na década de 1940-60.
Foi considerada a cidade do bangue-bangue, do crime fácil, sem motivo, onde "se mata por prazer". Ai criam-se, então, classes sociais distantes e polarizadas em uma região onde a terra é o bem mais importante.
Da terra saem os ciclos econômicos principais: a extração da madeira e conseqüente destruição da mata atlântica nativa, que desenvolveu as serrarias; o desenvolvimento da lavoura da cana para produção de açúcar; a extração da mica (malacacheta); a extração de pedras semipreciosas; e, por último, a criação de gado com fazendas modelos.
A sociedade é polarizada e hierarquizada, do ponto de vista social: de um lado, os ricos proprietários rurais, donos de prósperas fazendas com terras cheias de pedras preciosas e, de outro, os recém-chegados, pobres, despossuídos, que pensavam que tinham encontrado a Terra Prometida, a Eldorado ou Nova Jerusalém. Os conflitos sociais se espalham.
O que é importante ressaltar, no primeiro momento, é que a Igreja Metodista sempre esteve presente no desenvolvimento cultural, social e econômico de Governador Valadares.
Foi importante para a criação e urbanização da cidade nos anos 1930-40, sendo que o templo metodista foi um dos primeiros edifícios que se construíram ali. Teve papel social importante ao dar abrigo a populações pobres com trabalho de alfabetização e difusão do Evangelho.
Os índios Krenak, por exemplo, foram acolhidos ali e tiveram ajuda para se integrar à sociedade oficial, sendo alfabetizados e recebendo as primeiras letras. Eles tiveram suas terras apropriadas pelos fazendeiros, foram tirados da vida natural em que viviam, e se transformaram em uma espécie de 'novos pobres' da sociedade local.
O público, assim, da Igreja Metodista era formado pelas populações pobres e despossuídos da localidade. Pode-se dizer que as classes sociais se dividiam em termos de participação religiosa. Os ricos e prósperos fazendeiros pertenciam à Igreja Católica, os pobres e despossuídos na Igreja Metodista (e igrejas protestantes da cidade).
Governador Valadares é um caso especial, que chama a atenção, pois, desde o início de sua formação, também teve a presença estrangeira, principalmente, norte-americana. Foram os engenheiros norte-americanos que projetaram a Estrada de Ferro Vitória a Minas, da Companhia Vale do Rio Doce. Foram eles também que descobriram as riquezas minerais da cidade.
Primeiro, a mica, malacacheta, que era importante na indústria eletrônica mundial e foi muito usada na indústria bélica na Iiª Guerra Mundial. Segundo as pedras semipreciosas, que intensificaram o comércio Brasil-EUA nesta área, inclusive, fazendo desenvolver ali um importante artesanato de pedras semipreciosas para exportação.
Este ciclo, entretanto, terminou no princípio da década de 1990, devido à dolarização da moeda brasileira. GV foi sempre uma cidade que teve jornais e um desenvolvimento cultural grande.
Os movimentos agrários, camponeses, também se desenvolveram muito na região na década de 1950-60, exigindo a reforma agrária.
O Sindicato Camponês era forte na região com uma grande capacidade de mobilização, que amedrontava os fazendeiros, que tinham medo de terem suas fazendas invadidas de forma violenta.
Junto da mobilização sindical e de esquerda, surgem, na cidade, jornais de esquerda, principalmente, O COMBATE, dirigido pelo comunista Carlos Olavo, que estampava títulos em vermelho e combatia a elite agrária de fazendeiros prósperos, reunidos no Sindicato Rural.
Para neutralizar o jornal, foi criado o DIÁRIO DO RIO DOCE (1960), financiado pela elite agrárias e comerciantes, reunidos na Associação Comerciais local. Seu primeiro Editor foi o jornalista Mauro Santayana, por paradoxo do destino, ele era militante de esquerda...O movimento esquerda/direita polarizou a cidade e a região, principalmente, os conflitos no campo.
O banditismo também cresceu e criou figuras lendárias como o Cabo Antônio Augusto e o Capitão Pedro que caçavam os bandidos.
Com o golpe militar de 1964, os movimentos de esquerda foram aniquilados pelos militares em Governador Valadares.
As lideranças foram presas, alguns se exilaram, outros sumiram ou foram mortos. Mas a formação de novas lideranças acontece a partir dos 1968-70.
Desta vez, não mais nos sindicatos camponeses ou em grandes jornais, mas dentro da Igreja Metodista. Por que ? Ora, sabemos que durante os 20 anos de República Militar (1964-1984) houve duas grandes instituições nacionais que foram importantes. Uma foi o Exército (as Forças Armadas), que controlou o sistema político; e a outra foi a Igreja.
Aqui entende-se a igreja (católica ou protestante) como instituição religiosa, de difusão de fé e valores cristãos. A Igreja é espaço inviolável no Brasil, mesmo até pelas forças de repressão política. Por isto, pode-se estudar marxismo e conspirar dentro das igrejas sem que a polícia política se aperceba.
Foi o que aconteceu na localidade. Mas, ao contrário da maioria de casos no Brasil, a nova esquerda, a esquerda jovem, surgiu em Valadares na Igreja Metodista e não na Igreja Católica. Pois, ali a instituição católica era aliada da elite agrária dominante, os grandes fazendeiros do Vale do Rio Doce.
Em meu trabalho de pesquisa, ainda em andamento, estou entrevistando pessoas que fizeram parte do movimento jovem de esquerda da Igreja Metodista de Valadares como: Alen Boechat (hoje engenheiro civil em GV), Elias Siqueira (jornalista, atualmente, morando em Boston, EUA), Sueli Siqueira (socióloga, professora da Univale, em GV), Carlos Olavo (jornalista, vive em Belo Horizonte), Suelio Siqueira (engenheiro, mora em BH), Dorcas de Oliveira (professora, mora em Brasília), Mauro Santayana (jornalista, mora em Brasília), além de outros.
Enfim, estas são as primeiras anotações que tenho da pesquisa ora apresentada. Para concluir, posso dizer que a Igreja Metodista de Governador Valadares teve papel importante na construção de um pensamento comunicacional marxista na região do Vale do Rio Doce nos anos 1968-70.
Ela propiciou a criação de um grupo de jovens, sob a liderança da professora Dorcas de Oliveira. As primeiras leituras marxistas, os primeiros debates, a discussão em torno dos problemas sociais, no campo e nas cidades, os debates sobre as contradições do capitalismo, a exploração do homem pelo homem, as injustiças sociais, a concentração de renda e a dominação política da sociedade por uma privilegiada e minoritária classe burguesa, que é proprietária dos meios de produção.
Deste grupo, alguns partiram para a luta armada contra o regime militar, outros foram estudar em Juiz de Fora, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte. Mas o ideal permaneceu: o de ver a sociedade mais justa, mais humana e com as mesmas oportunidades para todas as classes sociais.
TRABALHO EXIBIDO AQUI
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