Holandeses comemoram gol da vitória sobre o brasil na copa de 2010.
Por Adilson Filho
As vésperas de completar dois anos da eliminação da Copa do Mundo da África do Sul a seleção volta a enfrentar a Holanda em clima de revanche, mas muitos ainda tentam entender melhor aquele segundo tempo…
O Brasil
chegou na Copa do Mundo de 2010 como favorito e ostentando uma marca
impressionante que há muito não se via: Campeão da Copa América, campeão
da Copa das Confederações e primeiro lugar nas Eliminatórias,
classificando-se antecipadamente com duas rodadas de antecedência.
Durante os
quatro anos de preparação, nossa seleção não tomou conhecimento de
adversários tradicionais como Itália, Inglaterra, e Portugal – aplicando neste
uma goleada histórica de seis gols - e de quebra ganhava sempre com
sobras de seu maior rival, a Argentina, sendo a última vitória
acachapante e na casa dos nossos vizinhos.
A seleção
brasileira, sob o comando de Dunga e Jorginho, superou o trauma e a ausência de
craques pós-2006 - talvez a maior entressafra que o futebol brasileiro já
enfrentou – e se tornou uma equipe forte, regular, segura na defesa, que
atacava e defendia em bloco, valorizava a posse de bola e fazia sempre muitos
gols. Ainda por cima, como mencionado, ganhou tudo que disputou e sacudiu
(como se diz na gíria do futebol) todos os rivais de peso que enfrentou.
Durante a
competição, uma das mais niveladas dos últimos tempos, a seleção de Dunga
encontrou dificuldades, assim como todas as outras, mas conseguiu impor seu
jogo, mostrando a unidade e a consistência do trabalho realizado durante
quatro anos.
Até que
vem as quartas de final, contra a Holanda. E é sobre esse jogo fatídico,
principalmente sobre um pequeno detalhe acontecido aos 23 minutos do segundo
tempo e ignorado pela mídia esportiva, que passo a comentar de forma mais
detalhada a partir de agora.
Brasil x Holanda
Começa a partida e a seleção, de cara já vai impondo seu jogo. O time joga exatamente no estilo que melhor sabia jogar: marcando atrás da linha da bola, implacável na ocupação dos espaços e saindo rápido no contra-ataque. A Holanda não encontrava espaço e quase não via a cor da bola, como acontecia com a maioria dos adversários que enfrentavam a seleção brasileira.
Começa a partida e a seleção, de cara já vai impondo seu jogo. O time joga exatamente no estilo que melhor sabia jogar: marcando atrás da linha da bola, implacável na ocupação dos espaços e saindo rápido no contra-ataque. A Holanda não encontrava espaço e quase não via a cor da bola, como acontecia com a maioria dos adversários que enfrentavam a seleção brasileira.
Num passe
primoroso de Felipe Melo – o maior passador da seleção na Copa – a bola sai “da
chapa precisa” atravessa metade do campo e vai achar Robinho lá na grande área,
que bem ao seu estilo, apenas dá um “tapa” pra empurrar pro fundo da rede.
Um a zero
Brasil. O time ía pra cima, jogava bem, e na certeza de que tinha “caixa pra
mais” ameaçava uma Holanda absolutamente perdida em campo. O jogo segue,
Robinho faz boa jogada pela esquerda, limpa dois e deixa para Luis Fabiano, que
toca de letra para Kaká, e esse bate da entrada da área pra belíssima
defesa, de mão trocada, do goleiro holandês. Linda jogada, quase um golaço!
Em
seguida, Daniel Alves faz jogada pela direita e Juan toca por cima da trave. A
seleção ameaça de novo, logo depois, em mais um bonito lance: Kaká inverte o
jogo da esquerda, Daniel Alves amacia no meio e toca pra Maicon que vinha
avançando pela lateral , solta a “bomba” de fora e obriga o goleiro deles a
nova defesa por baixo… O Brasil, como era de sua característica, sufocava o
adversário atacando por todos os lados, com jogadas bem tramadas.
Há ainda
um pênalti em Kaká não marcado, mas tudo bem, embora acredite que o árbitro
tenha errado, são coisas do jogo e o japonês apitava bem – minutos antes havia
anulado corretamente um gol de Robinho em jogada de difícil
interpretação.
O juiz
apita, termina o primeiro tempo e com ele a história de sucesso desse grupo
vencedor, que com certeza poderia ter ido mais longe, mas que viria a se perder
num momento inusitado, frustrando as expectativas daqueles que, como eu,
entendiam as circunstâncias em que fora formado , e que confiavam e torciam por
sua vitória.
Vinte e três minutos do segundo tempo
É importante ressaltar que a seleção brasileira que entrará em campo para disputar a etapa complementar do jogo, protagonizará lances que jamais foram vistos ou sequer imaginados que pudessem acontecer, durante os quatro anos que antecederam a competição. Lances capitais que não fizeram parte de sua trajetória e por isso difíceis de serem previstos, mesmo se tratando de uma Copa do Mundo.
É importante ressaltar que a seleção brasileira que entrará em campo para disputar a etapa complementar do jogo, protagonizará lances que jamais foram vistos ou sequer imaginados que pudessem acontecer, durante os quatro anos que antecederam a competição. Lances capitais que não fizeram parte de sua trajetória e por isso difíceis de serem previstos, mesmo se tratando de uma Copa do Mundo.
Guardadas
as devidas proporções e preferências estilísticas (não é isso que está sendo
analisado), o que aconteceu em 2010 acabou sendo uma surpresa ainda maior do
que aconteceu no Sarriá em 1982, onde os erros de posicionamento da defesa pelo
lado esquerdo desde a estréia contra a URSS , a mania de Valdir Perez de se
manter em cima da linha da pequena área, e a desconfiança em cima de Serginho
Chulapa, ajudaram a escrever a crônica de uma possível derrota anunciada.
Voltando
a 2010, a vaca começou a dar o primeiro passo na direção do brejo quando numa
bola alçada na área por Sneijder, Julio César (o melhor goleiro do mundo) sai
mal e, atabalhoadamente, esbarra em Felipe Melo, que limpo no lance iria
tranquilamente tirar a jogada dali de cabeça. Gol da Holanda, num lance
inexplicável.
O outro
lance capital, que é, ao meu ver, a maior “entrega” de um craque
brasileiro numa edição de Copa do Mundo, foi protagonizado por um jogador que,
assim como o colega goleiro, pertencia aquela que era considerada a melhor
defesa do mundo.
Sobre
esse lance, que não se ouviu nem se escreveu uma linha na mídia esportiva
- pois infelizmente seus principais analistas na época pareciam estar
muito ocupados em demonizar pessoas e desafetos - eu vou
tentar compartilhar em detalhes agora.
Aos vinte
e três minutos do segundo tempo, a bola sobra na linha de fundo do Brasil pelo
lado esquerdo, Juan se antecipa e chega absoluto na jogada, com Robben atrás
dele. Juan tinha pelo menos 1, 5 metro de campo até o fundo, mas mesmo virado
para lateral (!), sem nenhum marcador a frente opta, inexplicavelmente,
por ceder o escanteio para o adversário.
A jogada
segue, Robben bate na cabeça de Kuyt e o atacante dá aquela raspada
mortal pra cabeçada de Sneijder na pequena área. O resto já sabemos, a Holanda
passa na frente pela primeira vez na partida e o Brasil não conseguiria mais
reverter.
Momento decisivo
Senhores, esse foi o lance de bola que selou o destino do Brasil na Copa da África do Sul. O péssimo segundo tempo da seleção, o descontrole de Felipe Melo com os provocadores holandeses, a reconhecida inoperância total de Robinho na hora “h” e a saída inacreditável de Julio Cesar sem dúvida contribuíram para a derrota, mas nenhum lance foi tão direto e decisivo quanto o escanteio cedido, “generosamente” pelo nosso zagueiro a equipe adversária.
Senhores, esse foi o lance de bola que selou o destino do Brasil na Copa da África do Sul. O péssimo segundo tempo da seleção, o descontrole de Felipe Melo com os provocadores holandeses, a reconhecida inoperância total de Robinho na hora “h” e a saída inacreditável de Julio Cesar sem dúvida contribuíram para a derrota, mas nenhum lance foi tão direto e decisivo quanto o escanteio cedido, “generosamente” pelo nosso zagueiro a equipe adversária.
Num
jogo de futebol, e aí os que jogam sabem que pode ser uma pelada no Aterro ou
uma final de Copa no Maraca, o objetivo primeiro é fazer gol, o segundo é não
tomar e para isso deve-se manter o tempo todo a bola o mais longe
possível de sua meta e o mais perto possível da meta adversária - dando
passes laterais sempre mais avançados, evitando faltas na entrada da sua área,
“prendendo bola” no ataque no final do jogo, e optando sempre pelo lateral no
lugar do escanteio. Isso é o básico da bola.
Ora, quando uma bola é disputada
na linha da fundo do seu time, um dos lances que mais vemos numa partida é o
jogador se esticar todo, se jogar no chão, derrapaaaaaaaar pra jogar a bola pra
lateral. Escanteio, nunca!
Nesse
sentido, não tenho dúvidas em afirmar que, do ponto de vista de sua
fatalidade, o escanteio cedido por Juan, é uma das jogadas mais
estranhamente executadas por um jogador brasileiro numa partida de Copa do
Mundo que tive notícia.
A meia do Roberto Carlos em 2006, o pênalti esquisito
do Sócrates em 86, a bola atravessada no meio campo por Cerezo em 82 e outros
que me escapam agora, foram lances infelizes mas de desatenção, de
displicência, ou relaxamento. No caso do nosso zagueiro , confesso que fica
difícil encontrar uma explicação razoável, dada a sua larga experiência em
partidas decisivas com a seleção brasileira.
Por que
Juan, um jogador tarimbado e de altíssimo nível, deu um escanteio de “mão
beijada” para o outro time quando tinha a opção de chutar a bola pela
lateral?! Eis a pergunta que não quer calar.
Ou que
não quis ser perguntada?
Essa
pergunta jamais foi feita para ele, e pior, o mais impressionante disso tudo é
que o lance crucial não foi mencionado momento algum pela mídia esportiva na
época, não foi sequer comentado como uma possível infelicidade de Juan, ou
mesmo pra se colocar a culpa no Dunga como sabiam fazer muito bem. Nada. Passou
batido e, pelo visto, passará em branco na história.
Quase um
ano depois da eliminação brasileira e na véspera do dia onde a seleção
reencontrará pela primeira vez a Holanda, esse lance traz a tona a lembrança do
que foi a cobertura da mídia na Copa do Mundo da África do Sul em 2010 . Um
trabalho desastroso, capitaneado pela Globo e pautado pela parcialidade
extrema, com matérias medíocres que tratavam os amantes do esporte como
verdadeiros idiotas, e outras preconceituosas contra povos e culturas .
É
só nos lembrarmos do caso do Paraguai, quando, após a reportagem
etnocêntrica e a manifestação de repúdio do Ministro da cultura, o Sportv
teve que emitir uma nota para dizer que o canal não tinha preconceito contra o
país, ou lembrar do jornalista famoso que ao falar da eliminação da
Itália justificou dizendo não se tratar de um “paisinho qualquer não”.
No caso
da Globo, como sabemos, foi realmente muito complicado pois a coisa conseguiu
tomar proporções perigosas, chegando ao nível pessoal.
O que se viu foi algo
repugnante. Lembro-me que logo após o jogo que nos eliminou , a emissora
exibiu um edição trágica e de muito mal gosto, de mais ou menos cinco minutos,
com os principais lances da partida, onde o narrador falava sobre o
caminho errado que Dunga traçou, e no meio eram inseridas (sem parar) imagens
do treinador na famosa entrevista em que discutia no ar com o repórter Escobar.
Como diria Max Weber, uma ação afetiva com sede de vingança!
Aliás a
repercussão desse caso na internet foi tamanha que chegou a se criar o “Dia sem
Globo” - uma manifestação contra a farsa montada pela emissora que depois
veio a tona. A Globo precisou emitir uma nota no fantástico para dizer
que torcia pra seleção. A Globo perdeu o respeito, virou a copa das notas.
Foi
a partir desse fato que ficou evidente que a política de extinção
de privilégios adotada por Dunga na seleção deixou a emissora numa situação
desconfortável, um lugar onde não estava acostumada a ocupar, impondo-lhe
obviamente outros objetivos.
Fica
então a pergunta: O lance capital do zagueiro Juan passou realmente
desapercebido pelos jornalistas esportivos da Globo ou será que foi
propositalmente deixado de lado? Foi incompetência ou a cruz que prepararam com
tanto cuidado só cabia mesmo um “cristo”?
A julgar
pelo programa “Bem amigos” da semana seguinte onde Ricardo Teixeira é
recebido de braços abertos e, num gesto simbólico, “devolve” a seleção para
turma do Galvão , acho que resposta fica mais fácil, embora saibamos que não
seria nenhum absurdo apostar nas duas hipóteses ao mesmo tempo.
Bom, a
Copa do Mundo da África do Sul já virou história, Juan é um grande zagueiro,
sempre correspondeu e deve ser perdoado, aliás nem é esse o caso; mas 2010
deixou claro pra quem quiser ver que alguns jornalistas do ramo deveriam se
preparar melhor para a atividade que escolheram exercer e outros, além
disso, se envergonhar da campanha raivosa que – por motivos não esportivos –
fizeram contra um profissional correto, ídolo nacional e sua equipe que
honrou a camisa amarelinha durante os quatro anos e meio que a vestiu.
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