Ricardo Kotscho
Nem faz tanto tempo, o Brasil fazia papel de gandula e de pedinte na cena política internacional.
Na viagem de quatro dias à Espanha para participar da 22ª Cúpula Ibero-Americana, encerrada nesta segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff mostrou que o Brasil inverteu estes papéis nos últimos anos.
De devedores a credores do FMI, percorremos um longo caminho de afirmação até Dilma entrar no Palácio Real para ouvir do rei da Espanha, Juan Carlos, um pedido para o Brasil contratar mais profissionais espanhóis, que enfrentam um dos índices mais altos de desemprego da Europa, e aumentar os investimentos das empresas brasileiras no país.
Quem poderia imaginar o rei da Espanha pedindo ajuda ao Brasil para tirar o país da maior crise da sua história recente?
Acontecia exatamente o contrário até outro dia, quando levas de brasileiros deixavam o nosso país em busca de emprego na Europa, e capitais espanhóis investidos aqui batiam em 80 bilhões de dólares.
Agora, Juan Carlos quer inverter o fluxo de capitais, argumentando que seu país tornou-se "a base europeia para muitas empresas ibero-americanas e queremos que seja também para as brasileiras".
Em questões migratórias, hoje estamos empatados: enquanto 100 mil espanhóis estão vivendo no Brasil, 100 mil brasileiros moram na Espanha.
O diálogo de igual para igual entre Juan Carlos e Dilma, com o Brasil dando exemplos de como enfrentar a crise econômica mundial e oferecendo ajuda à Europa, era algo impensável alguns anos atrás.
A presidente lembrou o que aconteceu nos anos 80 do século passado quando o Brasil era devedor do FMI e enfrentava uma estagnação econômica, como hoje acontece em vários países europeus.
"Só conseguimos sair de uma situação de crise e modificar a situação do Brasil quando combinamos robustez fiscal, ou seja, controle dos gastos públicos com crescimento; quando combinamos controle da inflação com distribuição de renda; quando apostamos no nosso mercado interno e desenvolvemos também uma política de exportações".
Em Madri, ao abrir o seminário "Brasil na senda do crescimento", Dilma defendeu um "amplo pacto global para a retomada do crescimento" e advertiu que "se todos fizerem ajustes simultâneos, o resultado é a recessão".
A presidente fez ainda em seu discurso uma veemente defesa da União Europeia, definida por ela como "uma das maiores conquistas da humanidade" e, antes de retornar ao Brasil, deixou claro que não vai deixar a Espanha na mão, como relata Clóvis Rossi, enviado especial da "Folha":
"A visita da presidente Dilma Rousseff à Espanha foi, acima de tudo, um esforço para demonstrar que o Brasil não tem a intenção de deixar o parceiro abandonado à própria sorte".
São outros tempos, bons tempos para o Brasil.
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