O BONDE DA UDN.
SAUL LEBLON NA CARTAMAIOR
É um velho truque do
conservadorismo brasileiro reiterado ao longo da história: quando a raiz dos
problemas repousa nas entranhas de seu aparelho administrativo ou no descaso
histórico com as prioridades da população, desfralde-se a bandeira udenista da sabotagem
perpetrada por 'agitadores'.
A lenga-lenga exala naftalina e remete ao linguajar pré-golpe de 64, mas encontra em São Paulo 71 quilômetros de motivações para ser ressuscitada com regularidade suíça pela pigarra do PSDB.
Nessa rede escandalosamente saturada e curta
do metrô --inferior a da cidade do México, por exemplo, com 200 kms-- os
registros de panes, acidentes e interrupções tem exibido frequência
preocupante: só este ano foram 143 ocorrências, média de uma por dia.
Nesta 4ª feira, a pigarra conservadora aproveitou a greve salarial dos metroviários para isentar a gestão temerária por trás dos transtornos renitentes.
Nesta 4ª feira, a pigarra conservadora aproveitou a greve salarial dos metroviários para isentar a gestão temerária por trás dos transtornos renitentes.
A narrativa é a de um
'jornal da tosse'; gargantas raspando pastilhas Walda emitem denúncias de
sabotagem e insinuam 'incêndios do Reichstag' de olho nas eleições municipais.
Agitadores conturbam o ambiente da metrópole;
não fosse isso, os serviços públicos tucans deslizariam no azeite fino de
oliva.
O ' jornal da tosse' por definição é pouco informativo: faltam-lhe pernas para driblar números adversos. Em 2011, o governador Alckmin investiu R$ 1,2 bi dos R$ 4,5 bilhões previstos para a expansão do metrô e não deixou por menos na ponta ferroviária: as compras de trens caíram à metade.
O ' jornal da tosse' por definição é pouco informativo: faltam-lhe pernas para driblar números adversos. Em 2011, o governador Alckmin investiu R$ 1,2 bi dos R$ 4,5 bilhões previstos para a expansão do metrô e não deixou por menos na ponta ferroviária: as compras de trens caíram à metade.
No conjunto do sistema o
recuo do investimento foi da ordem de 20% sobre 2010. A média tucana de
expansão dos trilhos tem sido de 2,35 kms/ano. Significa que nas mãos do PSDB
a rede precisará de cinco décadas para se equiparar a do México.
Até lá as gerações de
paulistanos terão a oportunidade de vivenciar o sentido da expressão 'sardinha
enlatada', com todos os riscos que a lata encerra.
O 'jornal da tosse' passa ao largo dessas miunças que fazem do metrô de São Paulo o sistema de transporte mais saturado do mundo, com 11,5 milhões de passageiros/por km. Seu forte é a frase lacerdista.
O 'jornal da tosse' passa ao largo dessas miunças que fazem do metrô de São Paulo o sistema de transporte mais saturado do mundo, com 11,5 milhões de passageiros/por km. Seu forte é a frase lacerdista.
Com a palavra, um virtuose na arte, o
comentarista da tosse José Serra, que limpa a garganta, ajeita a gengivite e
sapeca:
"É muito fácil hoje você paralisar o
funcionamento de uma linha qualquer. Uma gravata, uma blusa na porta de uma
vagão pode provocar [a paralisação]", disse o ex-governador e
pré-candidato do conservadorismo ao comando da capital paulista. "Não digo
que todas [as ocorrências) foram sabotagem, mas que algumas delas -- com
certeza-- têm a ver com isso".( UOL 23-05).
Depois, com uma tossinha matreira o governador Geraldo Alckmin emenda: ' "Ano passado não teve eleição, nem nenhuma greve, este ano tem (eleição e greve). Será que é só coincidência?"(UOL, 23-05).
O 'jornal da tosse' tem uma visão de mundo que o dispensa de atualizar o noticiário. Em setembro de 2010, em plena eleição presidencial, o metrô de São Paulo registrou uma megapane, seguida de protestos com 17 composições apedrejadas.
Depois, com uma tossinha matreira o governador Geraldo Alckmin emenda: ' "Ano passado não teve eleição, nem nenhuma greve, este ano tem (eleição e greve). Será que é só coincidência?"(UOL, 23-05).
O 'jornal da tosse' tem uma visão de mundo que o dispensa de atualizar o noticiário. Em setembro de 2010, em plena eleição presidencial, o metrô de São Paulo registrou uma megapane, seguida de protestos com 17 composições apedrejadas.
A pigarra tucana
emoldurou então a voz do governador em exercício Alberto Goldman, que não
perdoou: 'Puseram uma blusa na porta de um vagão paralisando o sistema;isso
cheira a sabotagem'.
Dias depois, perícia do Instituto de Criminalística comprovou que a pane fora causada pelo colapso técnico do metrô paulistano.
Dias depois, perícia do Instituto de Criminalística comprovou que a pane fora causada pelo colapso técnico do metrô paulistano.
'Mas a blusa estava lá',
deu de ombros o pigarrento Goldman. Justiça seja feita, a narrativa tucana tem
feito esforços de renovação.
Soninha Francine, do PPS,
incorporou-se à bancada da tosse desde o episódio de 2010, quando era chefe de
campanha de Serra na Internet e comentou assim,pelo twitter, o acidente que
deixou 250 mil pessoas a pé: "“Metrô de Spaulo tem problemas na proporção
direta da proximidade com a eleição.
Coincidência? #SABOTAGEM
#valetudo #medo”.
Bela pigarreada, Soninha. No engavetamento do último dia 16 , quando duas composições colidiram numa pane do comando automático, ela reafirmou a disposição de injetar ar fresco no script udenista e dedilhou toda faceira no twitter: "Metrô caótico, é? Não fosse pela TV e o Twitter, nem saberia. Peguei linha verde e amarela; sussa".
Bela pigarreada, Soninha. No engavetamento do último dia 16 , quando duas composições colidiram numa pane do comando automático, ela reafirmou a disposição de injetar ar fresco no script udenista e dedilhou toda faceira no twitter: "Metrô caótico, é? Não fosse pela TV e o Twitter, nem saberia. Peguei linha verde e amarela; sussa".
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