E TEM BEÓCIOS QUE DIZEM QUE O LULA SEGUIU ISTO AÍ:
O VENDILHÃO DO TEMPLO, O TARTUFO MOR DO BRASIL, DIGA-SE DE PASSAGEM, NÃO TEVE NADA A VER COM O REAL, SÓ DELE SE EXPRPRIOU, QUANDO O PLANO ERA UM SÚ... POR ASSIM DIZER, NA LÍNGUA DOS COLUNISTAS SOCIAIS, DOS JORNALÕES BRASILEIROS.
A devastação do Brasil no governo tucano-neoliberal: uma memória (4)
Esta última parte da condensação, feita por nós, de alguns trechos do livro “A Longa Agonia da Dependência”, de Nilson Araújo de Souza, é, sob qualquer ponto de vista, a mais importante.
Nela, o autor mostra, de forma vívida, como o governo Fernando Henrique, com sua submissão à matriz externa, quebrou o país já em 1998 – o FMI governaria o país pelo resto do seu segundo mandato.
Mais especificamente, é descrito o colapso do próprio Plano Real – baseado na hipervalorização da moeda em relação ao dólar para baratear as mercadorias importadas contra aquelas produzidas dentro do país.
Hoje, alguns elementos remanescentes daquela época, agora na marginalidade política, e mesmo alguns que não fizeram parte do grupo palaciano fernandista - estes por ignorância ou ilusão - propalam esse plano como um sucesso espetacular.
Não foi, nem poderia ter sido.
Pelo contrário, foi um dos fracassos mais retumbantes da história do país, só comparável ao de Campos Sales nos primórdios da República.
Antes de tudo, o leitor poderá conhecer – ou rememorar – como a combinação (se é que podemos assim nos referir àquela devastação) de juros altíssimos, desnacionalização da economia, importacionismo desenfreado, remessas de lucros em crescendo vertiginoso, estagnação, recessão e destruição de elos decisivos da cadeia produtiva levou o país à catástrofe.
Que sucesso houve num “plano” que teve de ser abandonado quatro anos antes de acabar o governo que o patrocinou, substituído pela regência do FMI?
Os elementos que mencionamos citam o suposto controle da inflação como seu triunfo. Assim justificam a destruição do país.
Como se, no limite, fosse um preço aceitável (ou até módico) acabar com o Brasil para controlar a inflação. Resta saber para quem serviria esse controle da inflação. Certamente que não para o povo brasileiro.
Entretanto, esse “controle da inflação” também não é verdade. Em 1999, a inflação estava outra vez fora de controle, apesar de todo o vandalismo econômico dos anos anteriores.
E, em 2002, quando o presidente Lula venceu as eleições, a inflação, mais uma vez, subia o elevador.
Naturalmente, ao não atacar nenhuma causa da inflação e agravar todas as verdadeiras causas – dos juros altos à monopolização brutal da economia e à dependência externa - o desastrado “plano” só poderia conduzir a esse resultado.
O importacionismo, a sobrevalorização do câmbio, os juros e a desnacionalização da economia podem – como foi o caso – num primeiro momento esconderem essa face de hidra.
No entanto, mais cedo do que tarde, ela se desvelará.
NILSON ARAÚJO DE SOUZA
Quando a crise tomou conta da Tailândia em julho de 1997, a economia brasileira já havia iniciado um forte processo de desaceleração. Até o setor da economia que, bafejado pelo crédito, vinha tendo comportamento positivo, o de bens duráveis de consumo, começou a derrapar desde maio daquele ano, levando a que suas vendas no comércio paulista tenham caído 5,9% no primeiro semestre. As vendas industriais das linhas brancas e de imagem e som caíram, respectivamente, 11,14% e 3,52% de abril para maio e mais 38% e 15% de maio para junho (sempre comparando com igual mês do ano anterior).
O conjunto da indústria de eletroeletrônicos teve suas vendas diminuídas em 12,18% em junho sobre igual mês de 1996.
As vendas de máquinas e equipamentos caíram 4,92% no primeiro semestre. O faturamento do setor de bens de consumo caiu 3,49%. Na região metropolitana de São Paulo, a queda das vendas no comércio vinha ocorrendo sistematicamente desde maio e em constante agravamento: 2,9% em maio, 3,5% em junho e 11,2% em julho.
Com juros na faixa de 183% ao ano, ninguém conseguia pagar as prestações, e a inadimplência explodiu. Em julho, o Serviço de Proteção ao Crédito recebeu na capital paulista 314.670 registros de carnês em atraso, isto é, 75,5% mais do que em igual mês de 1996; segundo o Banco Central, nos consórcios de bens duráveis, havia um atraso inédito: 18,02% dos consorciados que receberam o bem estavam em atraso; de acordo com o índice Servloj, os atrasos na faixa de 30 dias estavam em torno de 30% das prestações vencidas.
Segundo a pesquisa SEADE/DIEESE, os trabalhadores que ganhavam menos tiveram uma queda de seu salário real de 15,6% nos primeiros sete meses do ano. A massa real de salários na indústria, de acordo com a pesquisa do IBGE, caiu 5,2% nos primeiros sete meses sobre igual período do ano anterior.
CONTAS EXTERNAS
Para agravar a situação, as contas externas deterioravam rapidamente. Se considerarmos apenas a balança de transações correntes, o déficit subiu de 2,5% do PIB em 1995 para 3,3% em 1996 e 4,19% nos 12 meses terminados em julho de 1997 e não baixou desse patamar até o final do ano; em números absolutos, mais do que dobrou do primeiro semestre de 1996 para o primeiro semestre de 1997.
Quanto à promessa de que o ingresso de capital estrangeiro aumentaria o investimento, já demonstramos que a forte aceleração da entrada de “investimento direto estrangeiro” nos dois primeiros anos de governo FH, em lugar de elevar a taxa de investimento da economia, a reduziu de 17,8% do PIB no final do governo Itamar para 16,1% em 1996.
Esses capitais vieram não para aumentar a capacidade produtiva da economia, mas para abocanhar o patrimônio nacional. E sobre a sua “vocação exportadora”, estudo feito por pesquisadores do Núcleo de Estudos da Indústria e da Tecnologia, do Instituto de Economia da Unicamp, revelou que a tendência do capital estrangeiro no Brasil era ocupar setores voltados para o mercado interno, e não para exportação, com destaque para os setores de serviços. Assim foi que, enquanto de seu estoque acumulado em 1989 71,1% se concentravam na indústria de transformação e só 23% no setor de serviços, em 1995 o peso da indústria diminuiu para 53,2% e o de serviços aumentou para 42,5%.
Além disso, estudo de uma entidade voltada para o acompanhamento das transnacionais no Brasil, a Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), confirmou inteiramente a pesquisa da Unicamp. Havendo examinado 28 setores com participação estrangeira, concluiu que as sucursais das transnacionais aqui instaladas não tinham “vocação exportadora”. Em média, além de pequena, era declinante a participação das exportações em suas vendas: baixou de 11,34% em 1995 para 9,96% em 1996.
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