história do "Corvo" nasceu durante o velório de um repórter (cujo nome, infelizmente, não lembro) do jornal "Última Hora", na década de 1950. Sua morte, causada por espancamento efetuado por policiais truculentos, comoveu a cidade do Rio de Janeiro.
Samuel Wainer, proprietário da "Última Hora", acompanhava o velório quando viu chegar seu inimigo Carlos Lacerda, político e dono do jornal "Tribuna da Imprensa".
Lacerda tinha um histórico de jamais perder oportunidades para explorar comoções populares. "Ele apareceu no enterro vestido de preto dos pés à cabeça", descreveu Wainer em suas memórias, publicadas no livro "Minha razão de viver".
Certo de estar vendo não uma pessoa indignada com o assassinato de um colega de profissão, mas um ator em plena encenação, Wainer ficou profundamente irritado e foi embora do velório:
"Vou voltar para o jornal. Não agüento ver esse corvo na minha frente", explicou a amigos.
Chegando à redação, ainda alterado e sem conseguir esquecer o assunto, Wainer pediu ao cartunista Claudius que desenhasse uma caricatura de Lacerda como corvo.
Ela foi publicada na edição seguinte da "Última Hora" - e o apelido "Corvo" acompanhou Lacerda até sua morte, em 1977.
Carlos Lacerda foi um típico representante da direita brasileira. Arrogante, golpista, inescrupuloso, autoritário, hipócrita, falso moralista - a descrição é freqüente entre quem acompanhou a política do país naqueles tempos.
Conspirou contra os governos Vargas e JK, muitas vezes agindo contra a lei e contra a constituição.
Boa parte da grande imprensa da época, conivente, dava apoio a suas campanhas. Em 1964, quando da derrubada de João Goulart, Lacerda achou que finalmente havia chegado sua hora. Mas ele era tão pouco confiável que nem os militares golpistas quiseram sua companhia. Teve seus direitos políticos cassados por dez anos.
Lacerda tinha uma retórica sedutora para a classe média amedrontada, para conservadores empedernidos e para aquele tipo de mente simplória que acredita na "linha dura" ("tolerância zero", preferem alguns) como solução imediata e definitiva para todos os problemas.
Eleito governador do estado da Guanabara (i.e., a cidade do Rio de Janeiro depois da mudança da capital para Brasília), resolveu acabar com o problema dos mendigos... acabando com os mendigos. Por ordem da secretária de Assistência Social, Sandra Cavalcanti, eles eram afogados no rio da Guarda.
Isso foi descoberto e Lacerda ganhou de Wainer mais um apelido: "mata-mendigos". (Lacerda e dona Sandra tinham também um método muito peculiar de acabar com as favelas: botavam fogo nelas.)
O que me espanta é a semelhança dessas barbaridades de quatro décadas atrás com coisas que acontecem hoje em todo o Brasil. Em São Paulo, QUANDO da a posse do sr. José Serra, a prefeitura promoveu a construção de rampas anti-mendigos e a destruição dos poucos bens de moradores de rua que se recusam a ir para alojamentos municipais.
Tucanos ou corvos?
P´RÁ MIM ISTO É UM CORVO TAMBÉM!
TEXTO DO BLOG DO PANDINIGP, QUE READPTEI AQUI.
muito bom seu artigo
ResponderExcluirvaleu a pena ler