ABRAM OS OLHOS:
A mídia brasileira tem optado por uma abordagem insuficiente -para dizê-lo com indulgência-- dos desdobramentos que o escândalo do ‘News of the World' impõe às relações entre o dinheiro, a democracia e o direito à informação.
É perceptível um esforço de rebaixamento para dar ao escândalo do ‘ News of de World' o recorte de um ponto fora da curva.
O fato, porém, é que o direitista Rupert Murdoch, seu proprietário, montou e maneja no circuito Inglaterra/ EUA o maior conglomerado de mídia em língua inglesa do planeta. A investigação jornalística isenta não conseguiria explicar como fruto da coincidência que os tentáculos desse império incluam na folha de pagamentos o ex-assessor de imprensa do primeiro-ministro inglês David Cameron -cujo frequentava as festas da editora do ‘News of the World'; ou ,como lembra Lúcia Guimarães, brava correspondente do Estadão em Nova Iorque, que o fundador e atual presidente da rede Fox News, --o canal de tevê norte-americano de Murdoch-- seja Roger Ailes, ex-assessor de propaganda de Richard Nixon e de George Bush pai.Nos anos 70 Ailes foi o autor de um estudo sugestivamente intitulado:
‘ Como Colocar o Partido Republicano na Mídia'.
Manipulação e democratização dos meios de comunicação são formas de mediação social que se combatem. A manipulação viceja no terreno pantanoso da semi-informação e da semi-cultura que desarma os espíritos e embrutece o discernimento da liberdade e da Razão, prostrando a cidadania para o espraiamento tóxico do jornalismo ardiloso que combate idéias e defende interesses destruindo reputações e alvejando biografias.
Seria oportuno que as autoridades do país, ainda hesitantes diante da necessidade de regulação da mídia, acompanhassem atentamente o debate em torno do método Murdoch de jornalismo --e não apenas na mídia local.Há razões para crer que não seja apenas um descuido. Privar a sociedade das interações implícitas e da contextualização política explosiva de um episódio que só na aparência pode ser tratado como o caso específico de um tabloide inglês marrom, sugere um esforço de autopreservação diante do espelho incômodo, cuja trinca esfarela todos os semelhantes a sua volta.
(Carta Maior; 5º feira 14/07/ 2011)
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