Qualquer
jornalista sabe a diferença entre receber informações de um bicheiro sobre
algum caso e a de, sistematicamente, receber dele material clandestino que
incrimine os policiais que lhe criem problemas. Sobretudo, durante anos e sem
qualquer menção à luta de submundo que se desenvolvia nestes casos.
No
primeiro caso, é jornalismo. É busca da informação e sua apresentação no
contexto em que ela se insere.
No
segundo, é cumplicidade. É uma associação para delinquir, criminal e
jornalisticamente.
No crime,
porque viola, de forma deliberada, direitos e garantias constitucionais. No
caso Murdoch, o escândalo foi seu jornal ter grampeado telefones por razões
políticas. Neste, o de ter utilizado por anos gravações clandestinas fornecidas
por um terceiro, um contraventor.
Sob o
ponto de vista jornalístico, a pergunta é: se o “grampeador” de Murdoch tivesse
trabalhado de graça, o seu jornal, News of the World, teria menos culpa?
Cachoeira
trabalhou “de graça” para a revista, mas a revista sabia perfeitamente de seus
lucrativos interesses em fornecer-lhe “o material”.
Seria o
mesmo que o repórter de polícia, durante anos, saber que a fonte das
informações que recebia as transmitia por estar interessado em “tomar” outros
pontos de bicho e ampliar seu império zoológico.
É
irrelevante se o repórter fazia isso por dinheiro ou por prestígio.
Repórter
que agia assim, no meu tempo, chamava-se “cachorrinho”. E tinha o desprezo da
redação.
Não se
ofenda a profissão confundindo as duas coisas e nem se diga que o sr. Policarpo
é mero repórter. É alguém, que pelo seu cargo, tem relações diretas com a
administração empresarial da revista.
Não tem
sentido falar em “preservação de fontes jornalísticas” quando a fonte e o
relacionamento entre ela e um editor – não um simples e inexperiente repórter –
já são objeto de registro policial devidamente autorizado pela Justiça.
Sobre o
que Veja e Cachoeira conversavam está no processo, não há sigilo a se quebrado
aí.
O que se
quer saber é como e porque Veja e Cachoeira viveram esta longa relação
mútua e que benefícios para uma e outro advieram dela.
Por isso,
o senhor Policarpo Júnior deve prestar, como testemunha, declarações à CPI.
Poderá
alegar preservação de fontes quando for perguntado se a direção da editora
sabia a origem do material que publicava?
Não
parece que isso seja sigilo profissional, do contrário Murdoch escaparia ileso.
As
gravações hoje pelo jornalista Luis Carlos Azenha,no Viomundo,
reveladas a partir dos documentos publicados pelo Brasil 247, são uma
pá de cal no tal segredo de justiça que, todos estão vendo, não existe mais.
Dois bandidos
assumem que dirigiam as publicações de “escândalos” na Veja.
E isso é
um escândalo, que não pode ficar oculto.
Ocultar fatos, sim, é que é um atentado à liberdade de imprensa.
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