SEDE DO EDIFÍCIO QUE OS TUCANOS SUBIRAM SUAS ESCADAS, 3 VEZES, DE PÍRES NAS MÃOS. O F.M.I
SAUL LEBLON BLOG DAS FRASES.
As Bolsas desabaram na Europa nesta 2ª feira, recuando ao menor nível dos últimos três meses. O mergulho generalizado foi mais fundo nos países periféricos, caso da Espanha, por exemplo, cujo BC admitiu que a economia encontra-se em recessão, mas não poupou a Itália (menos 3,8%) e recuou também expressivamente em Frankfurt (menos 3,4%).
Um dia depois do 1º turno na França, que apontou a vitória de François Hollande sobre Sarkozy, a inquietação nas Bolsas se fez acompanhar da disparada do risco país em diferentes nações do euro submetidas ao garrote da austeridade suicida.
Para financiar economias submetidos a uma espiral paralisante de arrocho fiscal, recessão e esfarelamento de receitas, com consequente agravamento do déficit público, os capitais exigiam nesta 2ª feira juros de um a quatro pontos acima do índice-base pago pelos títulos alemães.
O conjunto reflete o pressentimento rentista de que está chegando a hora da verdade para a agenda da austeridade ortodoxa.
A vitória apertada de Hollande sobre o braço-direito de Angela Merkel não seria motivo suficiente para tanto. Ocorre que os mercados fizeram a leitura correta da surpreendente ascensão da extrema direita francesa que obteve o voto de quase 1/5 dos eleitores.
A candidata do Partido Nacional, Marine Le Pen, cresceu capturando o ressentimento popular contra um governo que franqueou a Nação aos impulsos ortodoxos irradiados de Berlim, sem que a genuflexão se refletisse em melhorias tangíveis, sobretudo nos cinturões periféricos. Por caminhos distintos e proposições diversas, a mensagem consagrada nas urnas francesas foi a de que um governo fraco, um Estado amordaçado pelos interditos das finanças e uma democracia ornamental --sem poderes para preservar direitos, a começar pelo direito ao emprego-- não responde às urgências postas por uma crise que se arrasta e, no caso do euro, se agrava desde 2008.
Com maior ou menor ênfase, diferindo nas respostas ao colapso, foi isso que disseram as campanhas de Hollande, de Marine e de Mélenchon (cuja votação aquém do previsto indica o voto útil antecipado em Hollande).
Trata-se de uma inflexão histórica: desde o início da crise, mais de uma dezena de países europeus trocaram parcial ou totalmente seus governantes. Na maioria das vezes em direção a lideranças e políticas ainda mais conservadoras. A derrota doo conservador Sarkozy sugere o esgotamento dessa receita.
A regulação estatal da economia está de volta à agenda do euro; os captais se agitam, mas a experiência endossa a travessia.
Na Europa, a pequena Islândia fez tudo ao contrário do que recomenda o figurino ortodoxo, a começar pelo fato de que decidiu em plebiscito não sacrificar a sociedade para salvar bancos; está se saindo melhor do que a maltratada Espanha, ou o desastroso calvário imposto a gregos, italianos, portugueses etc.
No Brasil, da mesma forma, a vitória recente do governo Dilma sobre a banca, dobrando uma resistência terrorista à redução dos juros, só foi possível porque o país ainda dispõe de um setor financeiro estatal que responde por 44% do crédito na economia. Ao acionar essa alavanca poderosa cortando o custo de suas linhas de crédito em até 50%, o Estado brasileiro obrigou os bancos privados a ceder para não perder mercado.
A grande lição brasileira é que não adianta substituir as ferramentas de política econômica por agências reguladoras ornamentais, tão caras à cartilha neoliberal.
A regulação da economia capitalista deve estar inscrita diretamente na engrenagem do sistema econômico. Isso se faz com relevante presença estatal nos setores estratégicos -- o financeiro, por certo, em primeiro lugar. Mas não só.
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