ESTA MERDA QUE COMEÇOU EM MONT PELLERIN, ( NA VERDADE, COMEÇOU BEM ANTES, MAS ISTO É OUTRA HISTÓRIA, ABORDAREMOS DEPOIS), ´TÁ DIFÍCIL DE SER ENTERRADA!
O neoliberalismo foi condenado à morte, mas apresentou recurso e terá direito a um novo julgamento absolutamente imprevisível - do qual pode, inclusive, sair absolvido e fortalecido. Estudiosos de diversas áreas consideram que o atual momento capitalista não chegou ao fim, acrescentam que os próximos anos não serão fáceis e não se arriscam a prever quando e como o livre mercado estará enterrado.
Ignacy Sachs, professor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, é defensor de um novo modelo que integre economia, desenvolvimento sustentável e trabalho decente.
Ele indica que a atual crise, em que os países mais ricos optaram por se fechar nas próprias tentativas de soluções em vez de prestar solidariedade aos mais pobres, é uma demonstração da criação de “egoísmos nacionais” criados pelo sistema capitalista.
Para ele, abandonou-se ao longo das décadas o hábito de planejamento a longo prazo das ações de Estados e das organizações multilaterais. “Não é uma volta pura e simples ao planejamento antigo. É um planejamento negociado entre os quatro grandes grupos de atores – o Estado, os empresários, os trabalhadores e a sociedade civil”, propõe.
Para os debatedores do seminário “Neoliberalismo, um colapso inconcluso”, realizado esta semana pela Agência Carta Maior, atravessa-se um momento em que a humanidade precisa buscar saídas criativas para que a transição de um sistema a outro não repita a trajetória do passado, sempre marcada por guerras frente a mudanças.
“O paradigma neoliberal está em xeque. Estamos na gestação de alternativas ao que foram os vinte anos perdidos da humanidade”, defende Paulo Kliass, especialista em políticas públicas e gestão governamental.
A atual crise, iniciada em 2008, não é vista como um colapso exclusivamente econômico, mas da estrutura do capitalismo. Por um lado os recursos naturais se mostram absolutamente insuficientes dentro do atual modelo de desenvolvimento, calcado em consumo e em multiplicação de lucros.
Por outro, trabalhadores em todo o mundo demonstram cansaço com a manutenção de um sistema desigual e que força a empregar cada vez mais tempo na conquista do sustento próprio.
“O dinheiro tem essa duplicidade. Como finalidade de vida social, é terrível. Mas pode ser um instrumento libertador”, pondera Luiz Gonzaga Belluzzo, professor do Instituto de Economia da Unicamp. Ele acredita que a atual crise desenha uma reestruturação do capitalismo, e não a superação do mesmo.
De todo modo, o desfecho desta situação, adverte, não pode ser previsto mecanicamente, e resta lutar para que se dê tendo como base o bem-estar dos cidadãos. “O neoliberalismo é uma forma do capitalismo que é muito mais perene do que podemos imaginar”, diz Belluzzo.
A atual crise é frequentemente comparada à de 1929, que levou o mundo a uma primeira grande quebra em tempos de capitalismo. De lá para cá, salvo pelo começo da segunda metade do século passado, predominou a falta de regulação sobre o capital, vista como o motivo da crise financeira que tem provocado desemprego e culminado em instabilidade política.
Na América Latina, reconhece-se como período de predominância das ideias neoliberais a década de 1990, quando, sob o chamado Consenso de Washington, os governos da região aplicaram a cartilha que prevê privatizações, não interferência do Estado sobre o mercado e enxugamento de gastos, o que implica deixar de prestar serviços outrora considerados básicos.
Antes disso, a região havia experimentado ditaduras e o aumento das dívidas públicas, com arrocho salarial e inflação. “A herança maldita de Fernando Henrique Cardoso não é apenas a recessão imediata. É o enfraquecimento do Estado e o fim do projeto de desenvolvimento”, exemplifica Emir Sader. “Foi um retrocesso estúpido e brutal, e é nesse contexto que aparecem os governos progressistas, ou pós-neoliberais.” Ele acredita que, embora o processo iniciado por presidentes como Luiz Inácio Lula da Silva, Hugo Chávez e Néstor Kichner esteja longe de conclusão, trata-se da única área do planeta em que se estão gestando projetos descolados da influência direta dos Estados Unidos, nação em decadência.
No mundo como um todo, a globalização resultou, na prática, na universalização da livre ação do chamado “mercado”, o que leva, neste momento de crise, à dúvida sobre quem está comandando a situação. Os governos das nações mais ricas se mostraram hesitantes quanto à aplicação de controles sobre o capital no primeiro episódio de colapso, em 2008, o que é entendido como o motivo para a nova etapa de problemas.
“Estamos em uma perda sistêmica de governança”, indica Ladislau Dowbor, professor titular da PUC de São Paulo e coordenador do Núcleo de Estudos do Futuro. A falta de um banco central mundial que possa atuar sobre episódios como este é um dos exemplos da ausência de instrumentos de intervenção.
Dowbor lembra que as últimas décadas marcaram uma progressão grande da produtividade sem que ocorresse uma evolução dos salários. O aumento de lucros e a criação de instrumentos especulativos levaram a um mundo em que quem toma conta dos processos não está ajudando a produzir nada.
Pelo contrário, constrói um ideário pró-livre mercado que leva à ampliação das desigualdades sociais. “Crianças morrem de fome e isso não é crise. Pertencemos a um eixo de construção de alternativas econômicas que precisa juntar forças para que os recursos sejam voltados ao que é verdadeiramente essencial.”
DO SITE VERMELHO.
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