A notícia favorável aos governos que não se coadunam com a mídia udenista nunca está lá.
A má vontade dos autointitulados 'formadores de opinião' com essas ilhas de autonomia é conhecida.
Editorial da Folha deste domingo rememora a ladainha: trata-se de um instrumento de natureza impositiva, com veiculação simultânea obrigatória, que subtrai 60 horas da grade de programação das TVs comerciais; estas, como se sabe, oferecem ao país a crème de la crème do repertório cultural e informativo da humanidade.
A repulsa ao horário eleitoral tem sua origem na mesma cepa que identifica na Voz do Brasil não um serviço de utilidade pública suprapartidário, credor de aperfeiçoamento, mas uma agressão do 'leviatã hobesiano' à livre escolha da sociedade civil.
Deriva desta fornalha ainda a ojeriza às televisões públicas, assim como ao chamado "Estado anunciante', cujo efeito deletério, sugestivamente, ganhou os holofotes dos 'pesquisadores' à medida em que o governo desconcentrou a veiculação da publicidade oficial, antes abocanhada quase integralmente pelos 'barões da mídia'.
Aos liberais que não se libertam jamais da canga conservadora, não ocorre arguir se a estrutura de propriedade dos meios de comunicação -sobretudo no caso da televisão-- assegura a pluralidade narrativa necessária à formação critica do discernimento nacional.
A verdade é que a indigência política no caso brasileiro tem como um de seus principais tributários a própria mídia. Baratear o debate sonegando espaço e relevância aos grandes temas que afrontem o seu interesse, é uma de suas especialidades.
Um exemplo é o tratamento demonizante dispensado ao tema da regulação democrática do setor; outro, as acusações de chavismo carimbadas contra qualquer opinião favorável à ampliação da democracia participativa (leia nesta pág. a coluna de Laurindo Lalo Leal Filho, A criminalização da política).
A mesma edição dominical da 'Folha' que critica o horário eleitoral gratuito como sinônimo de recurso impositivo e de má qualidade, oferece ao leitor um suplemento ilustrativo dessa contribuição ao aperfeiçoamento do debate político nacional.
Um encarte na forma de quadrinhos, que almeja despertar o interesse decepcionante do distinto público pelo julgamento do chamado mensalão , condensa todo um coquetel tóxico de preconceito e generalização colegial.
O conjunto está na raiz da infantilização e das deformações da vida política que o jornal critica. Aos bordões típicos do conservadorismo contra a instituição partidária, subjaz uma dissimulada genuflexão ao agonizante credo neoliberal, a saber: tudo o que não é mercado é corrupção; tudo o que não é mercado é ineficiente; tudo o que não é mercado é irrelevante, é descartável e suspeito.
Nada mais caricato do que uma caricatura que se presta a baratear a realidade para vender o peixe do conservadorismo obtuso e do atomismo social.
Perto do ódio à política massificado pelo dispositivo midiático conservador, as deficiências efetivas do horário eleitoral são, ao contrário do que sugere a Folha, o mal menor.
SAUL LEBLON
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