Getulio Vargas sofreu com o terrorista do...
Do terrorista midiático, Carlos Lacerda, que era o...
Corvo da rua Chile.
A pressão atingiu seu auge naqueles dias finais de agosto.
Cinquenta e oito anos depois do tiro que sacudiu o país, o volume asfixiante do coro conservador ainda pode ser ouvido e aquilatado.
Basta potencializar - um pouco - o volume da condenação sumária sentenciada em cada linha, título, nota, coluna, fotomontagens, capas, escaladas televisivas e radiofônicas que nutrem o noticiário sobre o julgamento do chamado 'mensalão'.
O sociólogo Marcos Coimbra, presidente do Instituto de Pesquisas Vox Populi, em artigo recente, já mencionado neste blog, mensurou um pedaço dessa artilharia determinada a subordinar o discernimento da sociedade.
Nas quatro semanas até 13 de agosto, 65 mil textos foram publicados na imprensa sobre o "mensalão".
"No Jornal Nacional da Globo para cada 10 segundos de cobertura neutra houve cerca de 1,5 mil negativos", diz Coimbra.
Nas rádios, conectadas pela propriedade cruzada aos mesmos núcleos emissores, a pregação incessante é ainda mais desabrida e abusada --como naquele agosto de 1954.
O cerco promovido contra o PT atinge dimensões inéditas na asfixia a um partido político em regime democrático, na avaliação do governador Tarso Genro, em artigo recente na página de Carta Maior.
Entre um agosto e outro, algumas peças do paiol midiático permanecem. Outras se juntaram à tradição.Os personagens se renovam, mas o método se repete.
O arsenal udenista da suspeição e da condenação sumária, avesso ao contraditório, às provas e à isenção -- despida do cinismo liberal da objetividade-- forma um fio de continuidade que atravessa a régua desses 58 anos.
Compare-se alguns exemplos originários da mesma cepa de interesses e de lógica inarredável, que se encadeiam nos mesmos propósito formando um memo e único fio na linha do tempo:
I) Março de 54:
* A usina midiática de denúncias contra o governo Vargas lança uma bomba na praça .
O escândalo da vez é a denúncia de que "os caudilhos populistas" Vargas e Perón (o peronismo era o chavismo da época)-- planejavam um suposto "Pacto ABC" (Argentina –Brasil –Chile).
A meta era "promover a integração sul-americana formando num arquipélago de repúblicas sindicais na região contra os EUA" (qualquer semelhança com a reação ao ingresso da Venezuela no Mercosul não é apenas coincidência)
* Carlos Lacerda, na Tribuna da Imprensa e na rádio Globo, e a Banda de Música da UDN no Congresso – um pouco como o jogral que hoje modula as vozes da turma da mídia "ética" - martelavam a denúncia incansavelmente.
* Um ex-ministro rompido com Getúlio aliou-se a Lacerda para oferecer "evidências" das negociações entre o Vargas e Perón.
A inexistência de provas – exceto a menção genérica de Perón à uma aliança econômica regional — não demoveu a mídia que deu à fraude contornos de verdade inquestionável, independente dos fatos, das investigações e dos desmentidos.
II) Setembro de 1954:
* A dramaticidade do suicídio de Vargas em 24 de agosto iluminou o quadro político e incendiou a revolta popular contra o golpismo que recuou.Mas não cedeu. Em 16 de setembro lá estava Carlos Lacerda de volta novamente nos microfones da rádio Globo.
O alvo agora era João Goulart, o herdeiro político do presidente morto, adversário certo da UDN no pleito de outubro de 1955.
Na voz estridente do comentarista 'convidado' de diversos programas da emissora foi lida --'em primeira mão'-- a "Carta Brandi".
Uma suposta correspondência entre Jango e o deputado argentino Antonio Brandi; segundo Lacerda, a prova "definitiva" da conspiração para implantar "uma república sindicalista no Brasil".
* Na efervescência da guerra eleitoral, o escândalo levou o Exército a abrir inquérito imediatamente, enviando missão oficial a Buenos Aires para investigações. Conclusão oficial: tudo não passara de uma grosseira fraude, forjada e alimentada pela imprensa anti-getulista. Inútil.
* A exemplo dos que hoje sonegam às evidências contrárias o poder de mudar sentenças já pronunciadas pela mídia, Lacerda contratacou na Tribuna da Imprensa em outubro de 1955, um mês depois da derrota da UDN para JK e Jango:
"(...) Se a carta não é verdadeira seu conteúdo está de acordo, mais ou menos, com o que se sabe da vida política do sr. Goulart..."
Qualquer semelhança com o malabarismo denuncista dos últimos anos não é mera coincidência.
Um exemplo eloquente dele que reúne autores, métodos veículos marcantes:
III) Março de 2005:
" Documentos secretos guardados nos arquivos da Abin informam que a narcoguerrilha colombiana Farc deu 5 milhões de dólares a candidatos petistas em 2002 .
Nos arquivos da Agência Brasileira de Inteligência em Brasília há um conjunto de documentos cujo conteúdo é explosivo. Os papéis, guardados no centro de documentação da Abin, mostram ligações das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) com militantes petistas.
O principal documento (...)informa que, no dia 13 de abril de 2002, (...) o padre Olivério Medina, que atua como uma espécie de embaixador das Farc no Brasil, fez um anúncio pecuniário. Disse aos presentes que sua organização guerrilheira estava fazendo uma doação de 5 milhões de dólares para a campanha eleitoral de candidatos petistas de sua predileção (...) Um agente da Abin,( NR: quem, Dadá, o repórter auxiliar de Policarpo & Cachoeira já em ação?) infiltrado na reunião, ouviu tudo, fez um informe a seus chefes, e assim chegou à Abin a primeira notícia de que as relações entre militantes esquerdistas, alguns deles petistas, e as Farc podem ter ultrapassado a mera simpatia ideológica e chegado ao pantanoso terreno financeiro.
Sob a condição de não reproduzi-los nas páginas da revista, VEJA teve acesso a seis documentos da pasta que trata das relações entre as Farc e petistas simpatizantes do movimento.(Policarpo Jr.; revista Veja, edição 1896; 16 de março de 2005. Título: Laços explosivos )
Os mesmos objetivos, os mesmos métodos e a mesma elasticidade ética.
A solitária trincheira do 'Última Hora' não existe mais para rebatê-los.
O jornal foi comprado, sugestivamente, em plena ditadura Médici, em 1971, pela família Frias, que edita a Folha de São Paulo.
Descaracterizado em imprensa sensacionalista saiu de circulação nos anos 90.
Do seu vazio brotou um ramo vigoroso, igualmente inovador na forma, no conteúdo e na agilidade: o jornalismo digital independente.
Juntando pedaços , porém, é impossível não temer o ectoplasma presente de Lacerda e do udenismo.
Egressos da surra daquele glorioso agosto de 1954 em que a Última Hora e seus leitores reescreveram a narrativa do país direto nas ruas, eles persistem no cerco ao Catete. A qualquer Catete que dentro tenha um homem público disposto a assumir a tarefa que o mais mítico deles deixou inconclusa, porém agendada pela advertência de um estampido que sacudiu o discernimento nacional naquele 24 de agosto de 1954.
Exemplos da linha do tempo lacerdista:
IV) 5 de agosto de 1954:. Na madrugada de 5 de agosto, o major-aviador Rubens Vaz, foi assassinado na rua Toneleros, no Rio, em frente ao prédio onde morava Carlos Lacerda , a quem fazia escolta. Segundo a versão do próprio Lacerda, ele voltava de uma de suas conferências, desta vez no Colégio São José, cujo tema era sempre o mesmo: a necessidade de afastar Getúlio do poder, quando integrantes da guarda-pessoal de Vargas cometeram o atentato que o tinha como alvo principal. Lacerda apresentou várias versões para o episódio.
Testemunhas, entre elas o jornalista, já falecido, Armando Nogueira, viram Lacerda caminhando normalmente no local após a morte de Vaz, o que contraria sua versão de que teria levado um tiro de 45’ no pé que ‘doía de forma intensa’.
Os cusadaos do crime foram mantidos incomunicáveis e torturados pela polícia carioca. Lacerda jamais permitiu a perícia do revólver 38’ que portava.
O boletim de registro do seu atendimento, bem como as radiografias do pé supostamente alvejado desapareceram do Hospital Miguel Couto, no Rio. Não importa, o episódio virou a gota d'água do cerco a Getúlio.
V. Setembro de 1954: a dramaticidade do suicídio de Vargas em 24 de agosto iluminou o quadro político e incendiou a revolta popular contra o golpismo em marcha.
Para Carlos Lacerda não sobrou um centímetro de segurança em terra: o "Corvo" foi obrigado refugiar-se no mar, a bordo do cruzador Barroso.
Em 16 de setembro de 1954, porém, o denuncismo estava de volta nos microfones da rádio Globo,um dos veículos mais radicais na pregação anti-comunista e pró-americana.
O alvo agora era João Goulart, o herdeiro político do presidente morto e adversário certo da UDN no pleito de outubro de 1955.
Na voz estridente de Lacerda, comentarista de diversos programas da emissora de Marinho, foi lida em primeira mão a "Carta Brandi".
Uma suposta correspondência do deputado argentino Antonio Brandi a João Goulart , apresentada como a prova "definitiva" da conspiração para implantar "uma república sindicalista no Brasil".
VI) Na efervescência da guerra eleitoral, o escândalo levou o Exército a abrir inquérito imediatamente, enviando missão oficial a Buenos Aires para aprofundar as investigações.
VII) A conclusão oficial de que tudo não passara de uma grosseira fraude, forjada por Lacerda e alimentada pela imprensa anti-getulista, não abalou seus protagonistas.
Lacerda rapidamente se adaptou ao revés.
A exemplo dos que hoje sonegam às evidências contrárias à existência do 'mensalão' o poder de mudar a sentença que a mídia já pronunciou , Lacerda escreveu na Tribuna da Imprensa em outubro de 1955, relevância para reverter uma sentença de condenação um mês depois da derrota da UDN para JK e Jango no pleito de outubro de 1955:
"(...) Se a carta não é verdadeira seu conteúdo está de acordo, mais ou menos, com o que se sabe da vida política do sr. Goulart.."
Qualquer semelhança com o malabarismo denuncista que povoa a mídia tucana nos nossos dias não é mera coincidência. Os mesmos objetivos, os mesmos métodos, a mesma elasticidade ética e democrática estão presentes.
Leiam o artigo na íntegra noblog das Frases de Saul Leblon
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