Marcos Coimbra.
Há os que desgostam do PT, dos
petistas e de tudo que fazem com tal intensidade que qualquer explicação é
desnecessária. Apenas têm aversão profunda pelo que o partido representa.
Alguns a desenvolveram por
preferir outros partidos e outras ideias. Mas são a minoria. Os mais sinceros
anti-petistas são os que somente sentem ojeriza pelo PT. Veem um petista e
ficam arrepiados.
Sequer sabem a razão de tanta
implicância.
Detestavam o PT quando era
oposição — dizendo que era intransigente — e o detestam agora que está no
governo pela razão oposta — acham que é tolerante demais.
Odiavam os petistas quando
vestiam camiseta e discursavam na porta das fábricas. Hoje, os abominam porque
usam terno e gravata e a fazem pronunciamentos no Congresso.
Um dos argumentos que invocam para justificar a birra é capcioso: o mito da
"infância dourada" do PT, quando ele teria sido virginal e puro. O
invocam com o intuito exclusivo de ressaltar que teria perdido algo que, em seu
tempo, não admitiam que tivesse.
O PT abstrato e irreal que
criaram é uma figura retórica para denunciar o PT que existe de fato — que não
é menos, nem mais real que os outros partidos que temos no Brasil e no mundo.
Além desse antipetismo figadal e
baseado em pouco mais que um atávico conservadorismo, há outro. Que pretende
ser mais sóbrio.
Nestes tempos de julgamento do
"mensalão", é fácil encontrá-lo.
Seus expoentes são mais racionais
e menos folclóricos. Usam uma lógica que parece sólida.
O que mais os caracteriza é dizer
que não discutem os fins e, sim, os meios do PT. Que não são anti-petistas por
definição, mas que repudiam aquilo que os líderes petistas fizeram para chegar
ao Planalto — e passaram a fazer depois que o partido lá se instalou.
Ou seja, sua oposição não
questionaria o projeto petista, mas sua tática. Não haveria problema no fato de
o PT querer estar — e estar — no poder. Mas em o partido ter usado meios
inaceitáveis para lá chegar e permanecer.
Parece uma conversa bonita. E
nada mais é que isso.
No fundo, esse anti-petismo é
igual ao outro. Sua aparente sofisticação apenas dá nova roupagem aos mesmos
sentimentos.
O que o antipetismo não perdoa em
José Dirceu — e outras lideranças que estão sendo julgadas — não é ter usado
"meios moralmente errados" para alcançar "fins politicamente
aceitáveis".
Salvo os mal informados, seus
expoentes sabem que o que o ex-ministro fez é o mesmo que, na essência, fariam
seus adversários se estivessem em seu lugar — sem tirar, nem por.
Quem duvidar, que pesquise quem
foi e como atuava Sérgio Motta, o popular "Serjão",
"trator" nas campanhas e governos tucanos.
(Com ele, não havia meias
palavras: estava em campo para garantir — seja a que preço fosse —, 20 anos de
hegemonia para o PSDB — e que ninguém viesse a ele com a cantilena da
"alternância de poder".
Não foi por falta de seu empenho
que o projeto gorou.)
O pecado de José Dirceu é ter
tido sucesso no alcance dos fins a que se propôs — um sucesso, aliás, notável.
Sem sua participação, é pouco
provável que tivéssemos o "lulopetismo" — um dos mais importantes fenômenos políticos de nossa história, gostem ou
não seus adversários. Sem ele, o Brasil não seria o que é.
Isso é muito mais do que se pode
dizer de quase todos os contemporâneos.
Mas é essa a realidade. Enquanto
José Dirceu vive sua ansiedade, Sérgio Motta é nome de ponte em Mato Grosso,
anfiteatro em Fortaleza, centro cultural em São Paulo, praça no Rio de Janeiro,
edifício em Brasília, avenida em Teresina,
usina hidroelétrica no interior de São Paulo e rua na longínqua Garrafão do
Norte, nos rincões do Pará.
E de um instituto em sua memória,
patrocinado pelo governo federal, que distribui importante prêmio de arte e
tecnologia.
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do
Instituto Vox Populi
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